ARTIGO – Adilson Baptista
O início da vida, nove meses no útero materno, sempre consideramos ser esta a fase de maior segurança, de mais aconchego, em que nos sentimos totalmente livres das influências externas que poderiam nos causar algum mal.
Infelizmente, nossa sociedade tem feito com que esse conceito de lugar seguro sofra mudanças.
O pequeno Arthur Cosme de Melo nasceu no dia 1º de julho, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, após a mãe Claudineia ser baleada na barriga e o tiro atingir o menino. Uma cesariana de emergência interrompeu o final da gestação de Arthur, retirado do seu mundo de segurança para conhecer, do modo mais dolorido, o mundo que nossa sociedade tem criado para ele e todos de sua geração.
O combate à violência tem sido um verdadeiro enxugar de gelo, com leis cada vez mais brandas para os criminosos, políticos cada vez mais envolvidos com o crime e representantes da justiça cada vez mais benevolentes com as práticas criminosas que assolam a sociedade como um todo.
Não bastasse o caso triste e lamentável de Arthur, há alguns meses vimos o caso do também pequeno Breno Rodrigues Duarte da Silva, de apenas um ano e meio, que faleceu após vomitar e se engasgar, enquanto esperava por socorro. O motivo da falta de atendimento foi que a médica (se é que podemos considera-la assim) Aide Marques da Silva, 59 anos, se recusou a levar Breno para um hospital na ambulância solicitada pela família. A justificativa da profissional, que rasgou a solicitação de atendimento, era que tinha acabado o seu turno.
Apenas por esses dois casos, percebemos como nossa sociedade tem se desfacelado quando o assunto é estabilidade da ordem. Não sabemos onde foram parar os valores éticos, que no caso da médica deveriam ser frutos de um juramento profissional que se dá no ato de formatura de todo profissional da saúde. Os direitos constitucionais que deveriam garantir proteção a todos os brasileiros, desde o seu nascimento, estão todos ofuscados pela ganância do dinheiro e do poder, proporcionados pelo tráfico de drogas e armas, pela corrupção que invade os cofres públicos, tudo isso sob os olhares coniventes daqueles que deveriam materializar as letras das nossas leis.
Os pequenos não sabem se defender da sociedade, estão apenas começando a vida e precisam se preocupar com outras coisas, como andar, abraçar, brincar, ser criança. Quem tem que defende-los e protege-los é a sociedade, eu e você, as leis, as instituições, enfim, todo o aparato civilizatório que criamos em nosso tempo.
Tudo isso ainda sem falar nos malditos adultos que defendem o aborto, e dos assassinos que o fazem em clínicas clandestinas.
Podemos e devemos dar mais dignidade aos nossos pequenos. As balas que eles gostam são de açúcar, não de pólvora.