Há um tempo tinha ouvido falar da característica mais evidente dos dinamarqueses: a honestidade. Mas de onde vem essa fama, e por que essa virtude encontra-se tão presente na vida social de pessoas comuns?
A resposta é simples: o exemplo vem dos políticos do país. A Dinamarca é uma democracia representativa e uma monarquia constitucional, desde a constituição de 1849. O monarca é formalmente o chefe de estado, com um papel essencialmente cerimonial.
Em matéria recente, exibida pelo Fantástico, ficou evidente a diferença abismal entre o que presenciamos nos noticiários sobre a desonestidade dos homens públicos brasileiros e os brilhantes exemplos dos políticos dinamarqueses.
Para quem não viu a matéria, o repórter mostra um pequeno mercado e uma biblioteca sem funcionários, ou seja, a pessoa entra, pega o que precisa e coloca o dinheiro numa caixinha, ou, no caso da biblioteca, faz o registro da retirada por si mesma, e tudo funciona perfeitamente.
A reportagem falou então com um deputado, andando tranquilamente pela rua enquanto concedia a entrevista. Passa por eles um homem de bicicleta, e o deputado o cumprimenta. Era seu antigo companheiro de trabalho, um pedreiro. Bem, o pedreiro se tornou deputado. O salário do deputado lá é equivalente a R$ 23 mil, e o do pedreiro R$ 18 mil.
Na verdade, todos são muito bem remunerados de forma que todos podem ter um excelente patamar de vida e não há diferenças substanciais só porque um é pedreiro e outro parlamentar. Os filhos dos políticos estudam em escola pública, assim como a maioria da população. Os dinamarqueses pagam aproximadamente 40% de Imposto de Renda, mas encontram nos serviços públicos tudo o que precisam de melhor em saúde, segurança, educação, etc.
Sabe aquele amontoado de “aspones” que vemos em Brasília, enfiados nos gabinetes, ganhando salários astronômicos sem fazer nada, e sem prestar concursos? Então, na Dinamarca, cada grupo de quatro parlamentares compartilha uma secretária, um estagiário e dois acadêmicos, que ajudam na elaboração das leis.
Portanto, a honestidade presente em toda a sociedade dinamarquesa vem do exemplo dos políticos do seu país. Aliás lá, para entrar para a política, não precisa demonstrar esperteza como aqui, precisa apenas dar exemplo de conduta honesta. Existe acesso à informação e a imprensa é livre.
Nossa sociedade talvez nunca chegue a tal patamar de beleza democrática, de organização social como a Dinamarca, mas seria bom mostrar a todos que este é um mundo possível. De tanto vermos maus exemplos aqui, acabamos por aderir à ideia de que político honesto é uma coisa que não existe. A Dinamarca é uma prova de que isso não é conto de fadas.
O brasileiro precisa entender que políticos não estão acima da sociedade, mas têm o dever de servir a ela.
A reportagem termina com uma frase que pode ser um pequeno começo para nós: Os dinamarqueses têm confiança entre si e uma saudável desconfiança das instituições.
Por Adilson Baptista
Jornalista